Tratamento do Cancro da Próstata

Nesta forma da doença, deve realizar-se uma terapêutica com fins curativos, se o doente tiver uma esperança de vida igual ou superior a 10 anos. Dada a esperança média de vida actual, era habitual realizar este tipo de tratamentos em doentes até aos 70 anos de idade, aproximadamente. No entanto, este limite etário tem sido posto em causa e foi já ultrapassado, podendo ser um pouco superior, dado o aumento progressivo da esperança média de vida e, sobretudo, em doentes com bom estado geral e sem outras doenças significativas.

  As modalidades terapêuticas actualmente disponíveis e universalmente aceites são as seguintes:

  1. Cirurgia, designada por Prostatectomia Radical, que pode ser realizada da forma clássica (cirurgia “aberta”) ou por via laparoscópica
  2. Braquiterapia
  3. Crioterapia
  4. Radioterapia Externa

Em alguns casos particulares, outras formas de tratamento poderão também ser utilizadas técnicas como o HIFU (do inglês “High Intensity Focused Ultrassound, ou seja, Ultrassons Focados de Alta Intensidade) e mesmo outras, como as que utilizam laser intersticial. No entanto, actualmente, devem ser consideradas como experimentais e não deverão ser ponderadas como terapêuticas de primeira linha, a não ser em casos muito particulares. Para melhor conhecer estes diferentes tratamentos, para perceber em que consistem, quais as suas indicações, vantagens, desvantagens e limitações, por favor consulte os capítulos respectivos. No Instituto da Próstata e Incontinência Urinária, a avaliação, o tratamento e o seguimento do seu caso é feito por Urologistas com vasta experiência no diagnóstico e tratamento do cancro deste orgão, assegurando que o tratamento efectuado se adequa à sua situação clínica específica, cumpre os mais rigorosos standards de qualidade e está de acordo com os guidelines (linhas de orientação) recomendados pela Associação Americana de Urologia e pela Associação Europeia de Urologia.  

Tratamento do cancro da Próstata Localmente Avançado

  Neste estádio da doença, tal como nas formas histologicamente mais agressivas (Gleason score 8 a 10), a terapêutica preconizada é controversa, variando de autor para autor. As alternativas possíveis são:

  • Cirurgia, designada por Prostatectomia Radical, que pode ser realizada da forma clássica (cirurgia “aberta”) ou por via laparoscópica;
  • Braquiterapia de alta dose associada a hormonoterapia (bloqueio androgénico, isto é, terapêutica anti-androgénica) adjuvante ou neo-adjuvante; em casos seleccionados, braquiterapia com hormonoterapia associada a radioterapia externa;
  • Radioterapia Externa, igualmente com hormonoterapia adjuvante ou neo-adjuvante;
  • Crioterapia;
  • Hormonoterapia isolada.

A cirurgia, a braquiterapia e a radioterapia são técnicas geralmente indicadas nas formas localizadas; os casos em que poderão ser utilizadas neste estádio são muito particulares. A crioterapia também recomendada para as formas localizadas da doença, poderá ter um papel no tratamento do cancro da próstata diagnosticado nesta fase. No momento actual, a maioria destes doentes são submetidos a uma forma de tratamento localizado associado a hormonoterapia adjuvante (ou, por vezes, associando radioterapia à cirurgia, isto é, cirurgia + radioterapia adjuvante).  

Cirurgia: Prostatectomia Radical

Em alguns casos seleccionados, é “defensável!” preconizar a realização de uma cirurgia “agressiva”, para tentar debelar a doença, apesar desta estar já numa fase localmente avançada.  

Braquiterapia de Alta dose associada a Hormonoterapia

Em alguns casos seleccionados, é possível tentar tratar estes tumores com a associação de duas técnicas terapêuticas. A associação da Braquiterapia com alta taxa de dose à hormonoterapia (bloqueio hormonal) é uma possibilidade para o tratamento destes doentes.  

Braquiterapia com hormonoterapia associada a Radioterapia externa

Outra possibilidade terapêutica para o tratamento destes doentes, é relativamente agressiva, porque resulta da associação de três modalidades terapêuticas. O risco de efeitos secundários aumenta com este tipo de associações em relação à associação de apenas duas técnicas.  

Radioterapia Externa, associada a Hormonoterapia

Em alguns casos seleccionados, é possível tentar tratar estes tumores com a associação de duas técnicas terapêuticas. A associação do bloqueio hormonal é uma possibilidade para o tratamento destes doentes.  

Hormonoterapia isolada

Em muitos casos, em função da idade, doenças concomitantes, grau histológico do tumor, entre outros critérios, o tratamento preconizado para estádios de doença llocalmente avançada pode ser, “apenas”, o de bloqueio hormonal, em terapêutica única, isto é, não associada a nenhuma outra forma de tratamento local. Pode ser uma boa opção, com bom controle da doença, sem necessitar de terapêuticas adicionais que fariam aumentar o risco de efeitos secundários importantes.  

Tratamento do cancro da Próstata Metastizado (“disseminado”)

Nestes doentes, a terapêutica recomendada e mais habitual é a terapêutica hormonal, de bloqueio androgénico ver Terapêutica hormonal (anti-androgénica) e Orquidectomia sub-albugínea.  

Terapêutica hormonal (anti-androgénica)

Como o crescimento dos tumores da próstata está geralmente dependente da existência de uma hormona designada por testosterona (a “hormona masculina”), que é um “androgénio”, a terapêutica destes casos baseia-se no bloqueio da acção desta hormona, através da diminuição da sua produção e da supressão dos seus efeitos nas células tumorais prostáticas. Esta terapêutica consiste geralmente na associação de um “Análogo da LH-RH” com um “Anti-androgénio”. A LH-RH é uma hormona produzida no cérebro, numa estrutura chamada hipotálamo e que controla a produção, na hipófise, da hormona LH. Esta, por sua vez, está envolvida no controle da produção de testosterona pelos testículos. A administração de um análogo da LH-RH bloqueia, por isso, a produção de testosterona nos testículos. O “antiandrogénio” é um medicamento que impede a acção da restante testosterona que ainda circula no sangue (uma vez que nem toda a testosterona do homem é produzida nos testículos, uma parte é produzida noutras glândulas, designadas por “Supra-renais”). Esta forma de terapêutica é conhecida como bloqueio androgénico total. Consiste geralmente numa injecção que é administrada mensalmente, de 3/3 meses ou (uma possibilidade mais recente, pela avanço que foi conseguido nas formas de administração destes medicamentos), de 6/6 meses – o “análogo da LH-RH” – associado à toma diária de comprimidos (1 a 6/dia, dependendo do medicamento e da dosagem necessária para o doente). Recentemente, foi disponibilizado um medicamento de uma classe diferente, um antagonista da LH-RH. Este pode ser utilizado em vez do análogo desta hormona (LH-RH), com algumas vantagens, como por exemplo a não existência da elevação transitória da testosterona que acompanha o início da terapêutica com os “análogos”. A alternativa a esta forma de tratamento, que é crónica e geralmente muito prolongada, consiste na realização de uma pequena cirurgia a nível escrotal (ver Orquidectomia sub-albugínea).  

Orquidectomia sub-albugínea

Na actualidade, apenas uma minoria de doentes opta pela alternativa a este tipo de tratamento, que consiste na realização de uma pequena cirurgia, chamada orquidectomia sub-albugínea, na qual se retiram as células dos testículos que produzem a testosterona. Ou seja, a cirurgia tem o mesmo objectivo que o tratamento médico anteriormente referido – em injecções + comprimidos. Esta cirurgia pode, no entanto, ser a forma terapêutica mais indicada para doentes com idade avançada ou com comorbilidade importante, isto é, que padeçam de outras doenças. Neste caso, com uma cirurgia relativamente simples, rápida, com reduzido tempo de internamento ou mesmo realizada em ambulatório e de muito reduzida morbilidade (com poucos riscos), consegue-se o mesmo efeito que a administração das injecções anteriormente referidas, que tem de ser contínua e para o resto da vida. Por este motivo, recentemente, muitos médicos e doentes optam por esta forma de tratamento, que evita que seja necessário realizar um tratamento (em comprimidos + injecções) para o resto da vida.  

Cirurgia para alívio das queixas urinárias obstrutivas (RTU-P / “Tunelização”)

Se o tumor cresce de uma forma marcada, provocando um aumento do volume do orgão ou invadindo estruturas adjacentes à próstata, podem surgir queixas resultantes da obstrução, da compressão da uretra que atravessa a próstata. Nestas situações, o doente tem queixas marcadas de LUTS (ver LUTS, queixsa do aparelho Urinário Inferior) e pode ser necessária uma cirurgia para melhoria destes sintomas. Nestes casos, a cirurgia indicada não consiste na remoção completa do orgão (como nos casos em que o tumor está localizado na próstata, em fases precoces – designada por prostatectomia radical – ver capítulo respectivo), mas sim numa forma de tratamento “desobstrutivo”, ou seja, em que se remove o tecido tumoral que está a comprimir e a obstruir a uretra. É uma cirurgia em tudo semelhante à ressecção da próstata por aumento benigno (Ver “Ressecção trans-uretral da Próstata – RTU-P”).  

Tratamento de complicações ósseas (metástases ósseas)

Em alguns casos, ocorrem problemas ósseos quer em consequência do cancro (por metástases) quer dos tratamentos anti-androgénios (que causam osteoporose). Assim, pode estar indicada a realização de terapêutica com produtos que habitualmente são utilizados no tratamento da osteoporose, para “fortalecer” os ossos. São exemplos destes tratamentos os medicamentos do grupo dos bifosfonatos, o cálcio, a vitamina D ou produtos radioactivos como o Estrôncio-89 ou o Samário-153.  

Os bifosfonatos

Estes medicamentos ou ainda produtos radioactivos como o estrôncio-89 ou o samário-153 podem ser muito úteis para o tratamento da osteoporose associada ao cancro da próstata ou aos seus tratamentos, bem como das metástases ósseas, nomeadamente para alívio da dor.

 

Radioterapia

Em casos de metástases ósseas, pode ser necessário realizar radioterapia, paliativa, para alívio da dor óssea ou porque existe compressão da medula, com dor ou sinais neurológicos como alterações da força ou sensibilidade, geralmente dos membros inferiores.

 

Tratamento da dor (analgesia), da anemia e de outras complicações

Outras formas de tratamento são frequentemente necessárias em fases mais avançadas da doença oncológica da próstata. Destacam-se as seguintes:

  • Medicamentos analgésicos para alívio de dor óssea metastática, da dor noutros orgãos afectados por metástases ou da dor pélvica, local, causada pelo próprio tumor e/ou pela invasão local, nomeadamente de estruturas nervosas e de orgãos adjacentes;
  • Medidas para correcção de anemia como a administração de ferro, ácido fólico, eritropoietina e análogos desta hormona ou mesmo transfusões de concentrados de eritrócitos;
  • Tratamentos específicos de outras situações ou doenças co-mórbidas (isto é, simultâneas) ou induzidas pela terapêutica realizada.

Dr. José Santos Dias

Director Clínico do Instituto da Próstata

  • Licenciado pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
  • Especialista em Urologia
  • Fellow do European Board of Urology
  • Autor dos livros "Tudo o que sempre quis saber Sobre Próstata", "Urologia fundamental na Prática Clínica", "Urologia em 10 minutos","Casos Clínicos de Urologia" e "Protocolos de Urgência em Urologia"

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