É normal sentir alívio ao terminar o tratamento para um cancro no rim.
Ainda assim, é igualmente natural preocupar-se com a hipótese de o problema poder voltar. Ninguém quer passar pelo mesmo processo outra vez e voltar a experimentar sentimentos de angústia, preocupação e insegurança - típicos de quadros como este.
Mas antes de se alarmar, procure perceber se existem realmente motivos para tal.
Para que consiga avaliar a sua situação de forma mais clara, damos-lhe algumas explicações sobre os casos em que o cancro renal regressa.
Quão frequente é a Recidiva do Cancro do Rim?
Como em todos os casos tumorais, o cancro do rim desenvolve-se graças a um descontrolo no processo de crescimento e multiplicação celular, levando a que as células se acumulem e formem a massa tumoral.
Após o tratamento, em alguns casos, algumas das células doentes podem sobreviver, permitindo que o cancro se desenvolva novamente passado algum tempo – é o que chamamos de recidivas do cancro.
Nem sempre estas recorrências acontecem no mesmo sítio onde se desenvolveram da primeira vez, neste caso no rim (recidiva local). Podem aparecer em zonas próximas, incluindo gânglios linfáticos (a chamada recidiva regional) ou noutras regiões do corpo (recidivas à distância ou metástases).
Quanto ao primeiro caso, diferentes estudos descrevem uma taxa de recidiva local do tumor renal entre os 1,8 e os 27%.
Algumas evidências mostram que o risco de recidiva do carcinoma das células renais (o tipo mais comum) é maior nos primeiros 5 anos após a primeira cirurgia (nefrectomia radical, parcial ou tumorectomia). Aliás, a maioria destes casos ocorre, especificamente, durante os primeiros 3 anos.
A partir dos 5 anos, caso não existam sinais de cancro, o risco de surgir novamente baixa de forma considerável, embora possa acontecer em situações específicas.
Lembre-se que cada caso é um caso e, em muitos, o cancro é eliminado definitivamente logo no primeiro tratamento.
Que factores influenciam a Recidiva?
Existem alguns componentes que aumentam ou diminuem a possibilidade de um cancro renal recidivar.
Em primeiro lugar, os mesmos factores que aumentam a probabilidade de desenvolver um tumor maligno pela primeira vez podem também contribuir para o aparecimento de recidivas (maus hábitos alimentares, tabagismo, hipertensão arterial ou obesidade, por exemplo).
Segundo, o estadiamento do primeiro tumor - calculado com recurso à classificação TNM - e o seu grau também têm influência no risco de recidiva.
Os tumores de estádios mais baixos apresentam uma maior probabilidade de cura definitiva aquando do primeiro tratamento – logo, o risco de recidiva é menor.
Isto significa que se o tumor tratado previamente tiver sido de pequenas dimensões e localizado apenas no rim, é provável que tenha sido totalmente eliminado e não volte.
O estadiamento também está directamente relacionado com a rapidez com que o cancro pode voltar. Tumores de estádios T2, T3 ou T4, os mais altos, recidivam mais rápido em comparação com os de estádios mais baixos (T1).
Quanto ao grau do tumor, os de graus mais elevados, ou seja, cujas células são mais agressivas, têm maior probabilidade de surgir novamente.
Neste sentido, estudos relatam que a natureza mais agressiva dos tumores renais se reflecte em taxas de recidivas entre os 20 e os 40% após o tratamento cirúrgico, mesmo de casos localizados.
Como posso saber se o Cancro voltou?
Assim como quando o cancro é detectado pela primeira vez, nem sempre existem sintomas - pelo menos, não numa fase inicial.
Ainda assim, há alguns sinais sugestivos, tais como:
- Sangue na urina, que lhe confere uma tonalidade vermelha ou rosada;
- Massa palpável;
- Dor na região lombar;
- Episódios oscilantes de febre;
- Diminuição de apetite;
- Energia reduzida;
- Perda de peso;
- Sudorese nocturna anormal.
Caso sinta algum destes sintomas após um tratamento para o cancro no rim não significa obrigatoriamente que estejamos perante uma recidiva.
Alguns dos sinais são partilhados com muitas outras doenças, algumas benignas, pelo que nem sempre são motivo para preocupação.
Se surgir algum destes sintomas, procure aconselhamento junto do médico para uma avaliação.
Qual a importância do acompanhamento médico para impedir a recidiva do cancro do rim?
Concluída a estratégia terapêutica para o cancro no rim, os pacientes continuam a ser monitorizados frequentemente, não só para avaliar os resultados e possíveis efeitos do procedimento realizado, mas também para identificar eventuais evidências de que o cancro voltou.
Na verdade, a maior parte das recidivas que não apresentam sintomas são detectadas devido ao seguimento e vigilância dos pacientes. Significa que mesmo que o cancro regresse, é identificado numa fase precoce, em que as hipóteses de cura definitiva são favoráveis.
Como o risco de recidiva é maior nos primeiros 5 anos após o tratamento cirúrgico, geralmente o acompanhamento por meio de consultas médicas (e realização de exames adequados) estende-se, pelo menos, até essa altura.
Contudo, também existem alguns relatos de recidivas de tumores no rim cerca de 10 anos depois, embora sejam mais raros.
Assim sendo, embora os planos de acompanhamento e vigilância sigam certos protocolos e parâmetros, também devem ser individualizados, tendo em consideração o quadro clínico do paciente.
Estratégias para detectar Recidivas do Cancro do Rim
Durante as consultas após um cancro no rim, o profissional de saúde deve questionar o paciente sobre o seu estado de saúde geral e presença (ou não) de sintomas e/ou alterações específicas.
Além disso, procede ao exame físico, examinando nomeadamente o abdómen e gânglios linfáticos, a fim de detectar possíveis massas palpáveis.
São ainda realizados alguns exames de imagiologia, tais como:
- Ecografia abdominal e renal;
- Tomografia Computorizada torácica, abdominal e/ou pélvica;
- Ressonância Magnética Nuclear;
- Cintigrafia óssea – em determinados casos;
- Exames ao sangue;
- Análises à urina – para despistar a presença de células anormais ou sinais de hematúria (sangue na urina), que pode não ser visível a olho nu (hematúria microscópica).
A frequência destas consultas e da realização de exames depende de alguns factores, como a gravidade do tumor tratado e do risco de recidiva, a idade do doente e a presença ou ausência de factores de risco adicionais.
Como já vimos, os tumores mais avançados e graves, têm maior probabilidade de recidivar pelo que, geralmente, requerem um acompanhamento mais frequente e durante mais tempo.
Ainda assim, nos primeiros anos, as consultas podem ser realizadas com intervalos de alguns meses, aumentando progressivamente o intervalo entre elas e passando, posteriormente, a uma periodicidade anual.
Qual o risco de negligenciar as consultas periódicas ou ignorar os sintomas?
A única forma de detectar eventuais recidivas é estar atento aos possíveis sintomas e ser ser avaliado nas consultas de acompanhamento médico, as quais não deve descurar. Não deixe que o medo do diagnóstico adie estas sessões ou ignore eventuais sinais de alerta.
A prevenção é sempre a melhor forma de cuidar da saúde, e realizar exames pode ser o suficiente para acalmar as suas preocupações.
Além do mais, em casos positivos, atrasar a definição e execução da estratégia terapêutica pode levar os tumores a interferir com a função renal ou, em casos mais graves, a alastrar para outras zonas do corpo, correspondendo a um quadro clínico mais grave e de mais difícil tratamento.
Será que pode fazer algo para prevenir as Recidivas?
Esta é uma das principais preocupações de quem já teve cancro no rim: o que pode pôr em prática para evitar que volte a aparecer.
As evidências não são claras, mas como alguns factores de risco têm influência no risco de recidiva, pode seguir algumas práticas que os contrariam, nomeadamente:
- Deixar de fumar;
- Manter um peso adequado;
- Controlar a tensão arterial;
- Praticar actividade física;
- Optar por hábitos alimentares mais saudáveis.
Mesmo assim, não é possível garantir que o problema nunca mais volta.
No entanto, é certo que estas medidas têm efeitos positivos na sua saúde em geral, o que é benéfico para a fase de tratamento e recuperação.
Partilhe os seus receios com o médico, faça exames e tire todas as suas dúvidas.
Nem todos os casos de cancro no rim sofrem recidivas. Ainda assim, viver com essa incerteza pode ser angustiante e doloroso.
É por isso que deve partilhar os seus receios com o médico – melhor que ninguém, saberá averiguar se a sua situação exige preocupação ou não.
Mesmo que exista realmente um risco elevado de recidiva, na maioria dos casos, pode voltar a submeter-se a novos tratamentos (e em anos recentes ocorreu um enorme desenvolvimento de novas técnicas e novos medicamentos para este fim). A escolha depende de vários parâmetros, como, por exemplo, a localização e dimensão da recidiva e o estado de saúde geral.
É importante que perceba que os quadros de recidiva não são invariavelmente uma sentença.
O essencial é que agende uma consulta e conte com o apoio do seu médico para usufruir dos melhores tratamentos e com a melhor taxa de sucesso.
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