Rastreio do Cancro da Próstata: por que passa a ser recomendado pela Comissão Europeia e qual a sua utilidade

Fazer o rastreio para o Cancro da Próstata era, até este momento, um tema controverso, pelas dúvidas e falta de evidências robustas acerca da sua utilidade na protecção da saúde. Agora isso mudou: a Comissão Europeia (CE) emitiu uma nova recomendação que indica que medidas de rastreio para esta doença passam a ser aplicadas nos Estados-Membros da União Europeia.

 

Mas o que mudou? E quais são, de forma exacta, os benefícios de fazer um rastreio para o tumor na próstata? E como será realizado?

 

Vamos responder a todas estas questões neste artigo, para que se mantenha a par das novas recomendações, que são consideradas um marco na área da Urologia. Assim sendo, caso venha a fazer o rastreio, sabe o que esperar.

 

As novas recomendações da Comissão Europeia para o Rastreio do Cancro da Próstata

 

Infografico 2 Rastreio Do Cancro Da Prostata Por Que Passa A Ser Recomendado Pela Comissao Europeia E Qual A Sua Utilidade Instituto Da Prostata (1)

 

O termo “rastreio” expressa a ideia de realização de avaliações em massa, quase de carácter indiscriminado, para averiguar a presença de doença. Segundo as orientações da CE, alguns tipos de cancro já beneficiavam da existência de programas de rastreio – era o caso do cancro da mama, o colorectal e o do colo do útero.

 

As novas recomendações alargam essa lista, juntando-lhe o Cancro da Próstata, assim como outros tipos de cancro que demonstram beneficiar do rastreio e que também apresentam uma grande expressividade na Europa, como o do pulmão e o do estômago.

 

Ou seja, as novas orientações são para a implementação de programas organizados de rastreio para o Cancro da Próstata, indicados para casos assintomáticos e homens até aos 70 anos, com periodicidade anual.

 

O objectivo é que estes programas sejam executados com urgência e que abranjam o maior número de pessoas possível, de todas as classes socioeconómicas e localizações geográficas.

 

Para apoiar esta medida, a CE compromete-se a:

  • Financiar os programas em 100 milhões de euros;
  • Apoiar as medidas de investigação sobre o rastreio;
  • Reforçar a cooperação entre os países da União Europeia na implementação dos programas;
  • Combater os obstáculos que possam dificultá-la, incluindo os entraves técnicos e jurídicos relacionados com as políticas de protecção de dados.

 

As principais razões para a alteração da indicação do Rastreio do Cancro da Próstata

 

Infografico Rastreio Do Cancro Da Prostata Por Que Passa A Ser Recomendado Pela Comissao Europeia E Qual A Sua Utilidade Instituto Da Prostata

 

Até agora, as medidas de rastreio no Cancro da Próstata eram desaconselhadas pela Comissão Europeia por alguns motivos, sendo os principais:

  • Falta de provas da existência de ligação entre as práticas de rastreio e a redução da mortalidade por Cancro da Próstata;
  • Elevada probabilidade de os exames de rastreio levarem a falsos positivos ou falsos negativos.

 

A estas limitações juntou-se ainda o desenvolvimento da pandemia da Covid-19: o avanço das medidas de contenção e a utilização de meios e recursos para combater o agravamento da situação pandémica prejudicou as medidas de combate ao Cancro, incluindo o da Próstata, ao adiar diagnósticos.

 

Contudo, desde o último parecer da CE acerca das recomendações de rastreio, há quase duas décadas, os exames de diagnóstico desenvolveram-se: hoje são cada vez mais avançados e fidedignos, melhorando a fiabilidade dos resultados que alcançam. Assim, o objectivo da nova recomendação é acompanhar as mais recentes descobertas científicas e avanços tecnológicos.

 

Além disso, hoje já existem mais evidências da eficácia de fazer um rastreio para o Cancro da Próstata, em especial quanto à queda das taxas de mortalidade. Desta forma, o rastreio é agora encarado como uma prática que pode salvar a vida dos pacientes.

 

Esta necessidade de mudança das recomendações é ainda incrementada pelo esforço da Comissão Europeia em compensar o declínio do diagnóstico dos quadros de cancro que se fez sentir durante a pandemia.

 

A importância do Rastreio no Cancro da Próstata

 

O Cancro da Próstata é uma das neoplasias malignas do homem mais frequentes a nível europeu. Para além disso, é também uma das mais mortais, sendo apenas ultrapassada pelo cancro do pulmão.

 

No entanto, esta mortalidade tende a baixar quando o quadro clínico é diagnosticado de forma precoce. Porquê? Porque, nesse caso, a probabilidade de o tumor ainda ser pouco agressivo e localizado na próstata é maior, o que facilita o seu tratamento. Ao avaliar a probabilidade de doença, o rastreio pode contribuir de forma activa para este diagnóstico precoce, o que pode aumentar as probabilidades de sobrevivência.

 

Além do mais, as práticas de rastreio podem ainda identificar quadros de cancro mais agressivos antes de causarem sintomas e que se desenvolvem de forma silenciosa, que poderiam só ser descobertos mais tarde, quando seriam menos tratáveis.

 

Benefícios de um diagnóstico precoce nos casos de Cancro da Próstata

 

Já vimos que o rastreio permite fazer diagnósticos precoces e que estes aumentam as probabilidades de sobrevivência. Mas existem mais benefícios em diagnosticar um Cancro da Próstata cedo. Os mais importantes são:

  • Maior opção de escolha quanto a tratamentos – nos quadros mais agressivos, as hipóteses são mais limitadas;
  • Possibilidade de escolher tratamentos menos agressivos ou eventualmente não necessitar de tratamento imediato (mantendo-se em vigilância activa) – no caso de o tumor ser considerado de baixo risco;
  • Oportunidade de evitar certos efeitos secundários temidos, relacionados com a função sexual e com a capacidade de continência urinária – ao escolher métodos menos agressivos.

 

Por fim, ao diagnosticar um Cancro da Próstata de forma precoce, quando pode ser mais curável, é possível proteger a saúde mental dos pacientes e dos que os rodeiam, afectada pelas preocupações e receios que um quadro de tumor pode trazer.

 

O Exame do PSA como medida principal de Rastreio para o Cancro da Próstata

 

Agora que já sabemos que o programa de rastreios recomendado pela CE se destina a homens até aos 70 anos e conhecemos os seus benefícios, é preciso entender mais sobre o processo.

 

A realização do Exame do PSA é o procedimento padrão. O PSA (Prostate Specific Antigen) é uma glicoproteína produzida quase em exclusivo pelas células da próstata, embora também se encontre no sangue.

 

Os seus níveis (medidos em ng/ml) podem ser indicadores tumorais, no sentido em que uma próstata saudável tende a produzir valores mais ou menos reduzidos de PSA. Logo, mais quantidade de PSA pode significar que mais células o estão a produzir. E, por sua vez, o aumento do número de células pode indicar tumor.

 

A suspeita é ainda maior quando estes níveis têm um crescimento contínuo e/ou rápido e quando são muito elevados, tendo em consideração a idade dos pacientes. Neste âmbito, seguem-se alguns intervalos de valores universais ao realizar o exame do PSA. São eles:

  • Até aos 50 anos – níveis até 2,5 ng/ml;
  • Até aos 60 anos – níveis até 3,5 ng/ml;
  • Até aos 70 anos – níveis até 4,5 ng/ml.

 

Hoje em dia, além da presença de tumor, o teste do PSA consegue ainda prever a sua agressividade, de acordo com o seguinte mote: quanto mais alto o nível de PSA, mais agressiva e disseminada pode ser a doença.

 

A forma como se realiza o Exame do PSA

 

Uma vez que o PSA está presente no sangue, a realização deste teste consiste apenas na recolha de uma pequena amostra sanguínea, de forma indolor e rápida. Depois, esta é estudada em laboratório, através de uma técnica denominada radioimunoensaio.

 

Rastreio Do Cancro Da Prostata Por Que Passa A Ser Recomendado Pela Comissao Europeia E Qual A Sua Utilidade Instituto Da Prostata

 

Além de revelar os níveis de PSA encontrados, o exame permite avaliar diversos parâmetros importantes, que especificam a análise e a tornam mais certeira. São eles:

  • Relação entre o PSA livre e o PSA total;
  • Velocidade do PSA;
  • Densidade do PSA;
  • PSA da zona de transição.

 

Após a análise, os níveis obtidos são relacionados com os intervalos de valores referidos acima e com outras características pessoais dos pacientes, como a existência de factores de risco para o cancro, a fim de chegar a um diagnóstico mais conclusivo.

 

Complementos ao Exame do PSA no Rastreio do Cancro da Próstata

 

Além da realização do exame do PSA como procedimento padrão para o rastreio do Cancro da Próstata, a CE aconselha ainda a combinação do mesmo com exames imagiológicos, no caso de o resultado ser positivo e de os níveis de PSA levantarem suspeitas de tumor.

 

O método recomendado é a Ressonância Magnética, que utiliza campos magnéticos e ondas de radiofrequência para obter imagens detalhadas dos tecidos prostáticos. Para isso, os pacientes só têm de estar deitados “dentro” do aparelho do exame.

 

O objectivo é, com as imagens obtidas, conseguir confirmar a presença de lesão tumoral na próstata e perceber se esta precisa de tratamento, prevenindo assim a execução de tratamentos desnecessários.

 

Então, este é um método que torna todo o rastreio mais específico e rigoroso, ajudando também a contornar as limitações que o exame do PSA, sozinho, possa ter - em especial o facto de os níveis elevados poderem resultar de outras patologias ou situações.

 

O futuro do Rastreio do Cancro da Próstata

 

Como qualquer programa de rastreio – e visto que a Urologia e o Cancro da Próstata em específico são áreas que beneficiam de constantes actualizações – esta nova recomendação da CE pressupõe também uma monitorização contínua e sistemática. Isto significa que será ajustada ao longo dos anos de implementação, para que mantenha ou aumente a sua utilidade.

 

O uso dos recursos (exame do PSA e de testes imagiológicos) será também optimizado, à medida que se vão actualizando as suas normas e directrizes, com base na emergência de novos dados.

 

O intuito é melhorar cada vez mais as medidas de prevenção e protecção da saúde a que a população europeia tem acesso, em que se incluem o rastreio. Como consequência, é possível melhorar a qualidade de vida e baixar a mortalidade associada a patologias como o tumor prostático.

 

Posto isto, é fundamental que os pacientes se mantenham actualizados acerca destes procedimentos, através do acompanhamento profissional. No Instituto da Próstata, há muito que entendemos que as doenças da próstata são doenças muito relevantes e com impacto marcado na vida dos homens afectados. Dedicamo-nos há muitos anos a tratar os doentes com problemas deste orgão e estamos sempre a par dos novos desenvolvimentos e avanços na área urológica. Podemos esclarecer dúvidas acerca do Rastreio do Cancro da Próstata e de como pode realizá-lo, se quiser.

 

Também temos todos os meios na nossa clínica para executar os melhores meios de diagnóstico, incluindo o exame do PSA e outros testes de imagem.

 

Conte com a nossa ajuda na protecção da sua saúde.

Dr. José Santos Dias

Director Clínico do Instituto da Próstata

  • Licenciado pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
  • Especialista em Urologia
  • Fellow do European Board of Urology
  • Autor dos livros "Tudo o que sempre quis saber Sobre Próstata", "Urologia fundamental na Prática Clínica", "Urologia em 10 minutos","Casos Clínicos de Urologia" e "Protocolos de Urgência em Urologia"

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