O Cancro na Próstata na Comunidade LGBTQIA+: será que existem diferenças no diagnóstico e no tratamento?

O cancro prostático é uma doença que pode afectar qualquer pessoa que tenha próstata. Isto inclui heterossexuais, homossexuais, bissexuais e mulheres transexuais (que continuam a ter a glândula). Contudo, falar de Cancro da Próstata na comunidade LGBTQIA+Q ainda é pouco comum e existe ainda pouca informação sobre o tema.

Esta falta de esclarecimentos é o mote para o surgimento de dúvidas e mitos, impulsionando a desinformação. Será que, sendo gay, a probabilidade de desenvolver a doença é maior? O diagnóstico é diferente? Será que os tratamentos e a recuperação têm moldes próprios? Estas são algumas das questões mais comuns e responder-lhes é essencial na protecção da saúde.

Se pertence à comunidade LGBTQIA+ e gostava de saber mais sobre o tema – seja por já ter recebido um diagnóstico de cancro prostático, por pensar que pode sofrer do problema ou porque é familiar, amigo ou parceiro(a) de doente com este problema – com este artigo vai conhecer tudo sobre o processo de acompanhamento médico.

A relação entre o Cancro da Próstata e a Comunidade LGBTQIA+

O Cancro da Próstata é uma patologia que se caracteriza pelo descontrolo do processo de multiplicação das células do órgão, que promove a sua acumulação e dá origem à massa tumoral.

A causa para este fenómeno é desconhecida. No entanto, existem alguns factores que fazem aumentar o risco de o desenvolver:

  • Idade superior a 50 anos;
  • Raça negra;
  • Níveis de testosterona muito elevados;
  • Histórico familiar de doença;
  • Hábitos alimentares ricos em proteína e gorduras saturadas;
  • Maior exposição a produtos tóxicos.

No que toca à orientação e identidade sexual e de género, a relação com a doença parece ser inexistente. Na verdade, evidências sugerem que o risco de pacientes que pertencem à comunidade LGBTQIA+ desenvolverem Cancro da Próstata é semelhante ou até igual ao de indivíduos heterossexuais sofrerem desta doença.

O diagnóstico do Cancro na Próstata na Comunidade LGBTQIA+

O processo que determina a presença ou ausência de tumor maligno na próstata pode ser realizado por vários motivos e em diversas ocasiões – por exemplo, se existirem sintomas ou se se identificarem factores de risco.

A metodologia de diagnóstico é a mesma em todos os casos. O que acontece é que, para quem integra a comunidade LGBTQIA+, podem existir cuidados de preparação diferentes em certos exames, bem como efeitos distintos após alguns métodos.

 

Infografico Exames O Cancro Na Prostata Na Comunidade Lgbt Sera Que Existem Diferencas No Diagnostico E No Tratamento Instituto Da Prostata

Toque Rectal

O Toque Rectal consiste na palpação da próstata, através da inserção de um dedo pelo canal rectal. Isto permite averiguar a presença de sinais suscetíveis de tumor, como a presença de nódulos e/ou de zonas sensíveis.

Este método, realizado em homossexuais, bissexuais e mulheres transgénero, não apresenta qualquer diferença em relação ao efectuado em pacientes heterossexuais. É indolor, rápido e sem efeitos em todos os casos, dispensando também preparação.

Exame do PSA

Este é um teste que permite medir os níveis de PSA – uma glicoproteína produzida pela próstata que pode ser indicativa de tumor. A sua realização exige apenas uma análise ao sangue.

Para que os seus dados sejam conclusivos e fidedignos, é necessário ter algumas restrições, relacionadas com actividades que possam alterar os níveis de PSA. O sexo anal e a estimulação da próstata, por exemplo, são algumas das mais importantes. Logo, devem ser evitadas por, pelo menos e idealmente, 4 a 5 dias antes da realização da colheita de sangue para análise (para não se registar valores falsamente elevados).

Exames complementares

Quando o Toque Rectal e/ou o teste do PSA revelam que existe a suspeita de tumor na próstata, podem ser recomendados outros exames complementares de imagem. O objectivo é reunir mais informações sobre a glândula para chegar a conclusões mais confiáveis.

Um dos métodos mais usados é a Ressonância Magnética, que permite avaliar a glândula e zonas circundantes.

Na sua maioria, estes exames são de fácil realização e exigem poucos cuidados, antes e após a sua concretização.

Biópsia da Próstata

Uma Biópsia à Próstata caracteriza-se pela recolha de amostras de tecido do órgão através de agulhas, para análise em laboratório e confirmação da presença ou ausência de células cancerígenas. Todo o processo é visualizado e controlado por uma sonda colocada no ânus.

As agulhas podem ser colocadas no períneo ou no recto, através da sonda.

Após o procedimento pode haver alguns efeitos. Alguns dos mais comuns são o sangramento ou desconforto no ânus, bem como o desconforto na próstata, em especial se a Biópsia for realizada via rectal. Isto pode limitar uma relação sexual anal. É por isso que é recomendado evitá-la por cerca de 1 semana.

 

O tratamento para um Cancro da Próstata na Comunidade LGBTQIA+

 

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Existem vários métodos eficazes para eliminar um tumor maligno na próstata. A cura é mais provável e fácil de alcançar quando a doença é pouco avançada e está ainda localizada na glândula. Quando o risco de disseminação para outras zonas é reduzido, é até possível evitar ou atrasar o tratamento, mantendo o paciente em vigilância activa.

Quando, após o diagnóstico, se determina que é necessário agir sobre o problema, existem várias técnicas disponíveis. Estas são usadas para tratar um Cancro da Próstata na comunidade LGBTQIA+ e em pacientes heterossexuais de igual forma. As mais utilizadas são:

  • Braquiterapia – inserem-se sementes radioactivas de forma localizada na zona do tumor, através de agulhas colocadas no períneo. Ao longo do tempo, vão libertando radiação e eliminando as células doentes;
  • Radioterapia Externa – emitem-se raios de alta energia para a zona do tumor, através de um aparelho específico, de forma externa ao corpo. A dose de radiação libertada age sobre o tecido doente, eliminando-o;
  • Crioterapia – congela-se o tecido doente, através de um gás a temperaturas muito baixas que passa por agulhas colocadas no períneo. Com esta acção, as células doentes morrem;
  • Cirurgia – remove-se a próstata e outras estruturas próximas, através de um método cirúrgico pouco invasivo ou através de uma cirurgia aberta.

A escolha do tratamento depende de diversos factores, sendo a eficácia, a localização do tumor e a sua agressividade os mais importantes.

No caso dos pacientes homossexuais, bissexuais ou transexuais, as consequências que podem surgir depois da sua realização também são essenciais na decisão do procedimento. Porquê? Estudos mostram que o impacto dos efeitos secundários após um tratamento para o Cancro da Próstata na comunidade LGBTQIA+ é maior e mais pejorativo, comparando com pacientes heterossexuais.

Se estas consequências forem temidas, pode ser mais indicado realizar métodos com menos efeitos ou em que estes podem ser, pelo menos, revertidos. É o caso das técnicas mais localizadas (Braquiterapia e Crioterapia). Já na Radioterapia Externa ou nas cirurgias existe maior risco de atingir estruturas anatómicas próximas, o que aumenta o risco de consequências.

 

O impacto dos tratamentos para o Cancro da Próstata na vida sexual da Comunidade LGBTQIA+

 

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Como vimos, grande parte das técnicas usadas em tumores na próstata podem provocar efeitos secundários desagradáveis. Alguns deles podem ser do foro urinário, como a Incontinência Urinária, ou intestinal.

Em certos casos, em especial quando se usam métodos com radiação externa, pode ainda existir alguma sensibilidade ou irritação no canal rectal, que pode comprometer uma relação anal.

Ainda assim, os efeitos secundários com maior impacto em pacientes homossexuais, bissexuais ou transexuais relacionam-se com a vida sexual. Estes podem levar a algumas alterações na intimidade, adoptando novas medidas de estimulação sexual, em especial se uma das formas de prazer for o sexo anal.

Vamos perceber quais são as consequências mais comuns e impactantes para estes pacientes, assim como a forma como podem ser encaradas.

Alterações na obtenção de prazer sexual

Uma das formas de os pacientes que praticam sexo anal obterem prazer é com a estimulação da próstata, através da penetração. Algumas medidas de tratamento podem interferir com esta experiência. Por exemplo, as cirurgias, ao retirarem a próstata, impedem esta sensação.
A mesma coisa sucede com a Radioterapia Externa, já que pode haver perda de sensibilidade na próstata, temporária ou permanente.
Quando estas consequências ocorrem, é essencial encontrar novas formas de estimulação e de obter prazer.

Dificuldades de Erecção

Após um tratamento para o Cancro da Próstata, é comum que existam algumas dificuldades de erecção, o que limita ou impede uma relação sexual. Este efeito ocorre se, durante o procedimento, se lesionarem os nervos e/ou vasos responsáveis pelo processo de rigidez do pénis.

Nas técnicas mais invasivas, como algumas cirurgias, ou naquelas que afectam mais tecido saudável, como a Radioterapia Externa, o risco de isto acontecer é mais elevado. Por outro lado, nos métodos mais localizados, como a Braquiterapia, o risco reduz-se, embora ainda possa ocorrer.

Para os pacientes que obtêm prazer através da penetração anal, esta disfunção eréctil pode ser muito limitante, pois é necessária uma rigidez do pénis mais intensa, comparando com uma penetração vaginal.

Dependendo do caso, o problema pode ser definitivo ou transitório. De modo geral, caso a capacidade eréctil seja satisfatória antes do tratamento, é mais provável que, após o mesmo, se mantenha ou volte ao normal.

Caso contrário, existem várias formas de tratar a disfunção eréctil após um tratamento para o Cancro da Próstata na comunidade LGBTQIA+: fármacos (medicamentos, em comprimidos), creme, injecções e, em alguns casos mais difíceis de tratar, cirurgias com colocação de prótese peniana, são algumas das opções.

Mudanças no processo de ejaculação

Depois de um tratamento para um tumor na próstata, a capacidade ejaculatória também pode sofrer alterações. Por exemplo, ao removerem a próstata, as cirurgias impedem este processo. Afinal, sem esta glândula, deixa de haver produção de parte do líquido que sai na ejaculação mas, mais importante, são ocluídos os canais que transportam o esperma dos testículos (canais deferentes) e retiradas as vesículas seminais, órgãos que produzem a maior parte do esperma..

Após outros métodos, como a Radioterapia Externa, os pacientes também podem deixar de ejacular ou ejaculam menor volume espermático.

Todavia, mesmo com alterações ou cessação da ejaculação, ainda é possível, em certos casos, manter a capacidade de obter um orgasmo – é o chamado “orgasmo seco”, sem expulsão de esperma. Nesse caso, a satisfação sexual pode manter-se.

 

Recomendações importantes para a Comunidade LGBTQIA+ após tratar um Cancro da Próstata

Além dos efeitos secundários que os tratamentos para um tumor prostático podem provocar – a curto ou longo prazo -, também existem algumas consequências sentidas no processo de recuperação. As mais comuns, dependendo do método, são a dor, a inflamação e o sangramento, por exemplo no recto.

Caso os pacientes homossexuais ou bissexuais incluam na sua vida sexual a penetração anal, de forma passiva, existem algumas recomendações a seguir. Após a Radioterapia Externa, por exemplo, é importante que os pacientes evitem este contacto por cerca de 2 meses após o final do tratamento. Já depois dos métodos cirúrgicos, é aconselhado que aguardem 3 a 6 meses.

No caso da Braquiterapia em específico, é ainda recomendado que a relação anal seja evitada também durante 3-4 meses, para minimizar o risco de expor o parceiro à radiação das sementes implantadas.

 

Encontre um acompanhamento personalizado para enfrentar um Cancro da Próstata na Comunidade LGBTQIA+

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Já sabemos quais as particularidades de um diagnóstico e tratamento de cancro prostático em pacientes homossexuais, bissexuais ou transexuais, quais os efeitos que pode provocar e, sobretudo, como podem ser enfrentados.

Assim, caso exista a suspeita de sofrer deste problema, é essencial eliminar barreiras que possam prejudicar a discussão do tema e a adopção das medidas mais adequadas. Infelizmente, na comunidade LGBTQIA+, algumas são comuns, como por exemplo:

  • Medo, por parte dos pacientes, da discriminação;
  • Experiências negativas anteriores;
  • Crença por parte dos profissionais, que os pacientes são heterossexuais (heteronormatividade);
  • Não questionamento, por parte dos médicos, da orientação sexual dos pacientes. 

Como fazer frente a estas dificuldades e garantir que, seja qual for a orientação sexual e identidade de género, é possível receber os cuidados adequados?

Primeiro, é essencial partilhar com o profissional a orientação sexual e as suas preocupações, na consulta. Falar e questionar sem medos é o primeiro passo para um conhecimento mais aprofundado do quadro clínico. Depois, é também fundamental procurar clínicas e profissionais que ofereçam um acompanhamento personalizado.

O Instituto da Próstata é uma clínica inclusiva que se dedica às patologias prostáticas, independentemente de quaisquer factores adicionais. A nossa equipa consegue oferecer um serviço adaptado, baseado numa relação transparente e de confiança com os pacientes.

Além disso, realizamos os melhores métodos para diagnosticar e tratar os casos de Cancro da Próstata na comunidade LGBTQIA+ e em pacientes heterossexuais.

Marque uma consulta connosco e proteja a sua saúde sem barreiras.

Dr. José Santos Dias

Director Clínico do Instituto da Próstata

  • Licenciado pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
  • Especialista em Urologia
  • Fellow do European Board of Urology
  • Autor dos livros "Tudo o que sempre quis saber Sobre Próstata", "Urologia fundamental na Prática Clínica", "Urologia em 10 minutos","Casos Clínicos de Urologia" e "Protocolos de Urgência em Urologia"

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