Como é a vida sexual dos doentes após um tratamento para o Cancro da Próstata?

Tratar um Cancro da Próstata nunca é fácil pela preocupação constante com a própria vida. A possibilidade de surgirem consequências sexuais e a incerteza de como o tratamento pode afectar a vida íntima também contribuem para tornar o processo mais doloroso.
A melhor forma de lidar com a situação é estar ciente do que pode acontecer e, sobretudo, de como pode ser ultrapassada. Isto irá melhorar o bem-estar, tanto dos próprios doentes, como dos seus companheiros.
Assim sendo, neste artigo vamos explicar que problemas sexuais podem surgir após tratar um tumor na próstata e a melhor forma de lidar com eles.
 


O impacto do tratamento do Cancro da Próstata na vida sexual


Existem diversas formas de tratamento dos tumores da próstata; quando é curável, existem diversos tratamentos que o conseguem eliminar. Os mais habituais são:

  • Braquiterapia (ou Radioterapia Intersticial) – recorre à colocação de implantes dentro da próstata, próximos ao tumor, que libertam radiação ao longo do tempo;
  • Radioterapia Externa – usa um equipamento próprio com múltiplos emissores de radiação, para focar radiação ionizante na próstata;
  • Cirurgia (Prostatectomia) – consiste na remoção da próstata e outras estruturas próximas. Pode ser aberta, com incisões maiores (mais invasiva), ou laparoscópica ou robótica, com incisões mais reduzidas (menos invasiva);
  • Crioterapia – utiliza agulhas para direccionar um gás gelado até à próstata e ao tumor para o destruir através de diversos ciclos de congelação/descongelação;
  • Hormonoterapia – consiste na toma de fármacos que inibem a acção da testosterona, associada à formação e desenvolvimento do tumor.


Estes tratamentos para o Cancro da Próstata estão associados a um risco de desenvolver disfunções sexuais. As razões podem estar relacionadas com:

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  • A lesão de estruturas anatómicas relacionadas com a capacidade sexual durante o procedimento (nervos ou vasos que vão para o pénis) é mais comum após tratamentos como a Prostatectomia e a Radioterapia Externa, onde o risco de atingir tecidos e estruturas próximos à próstata é maior;
  • O bloqueio de hormonas essenciais para a capacidade sexual (testosterona) – no caso da Hormonoterapia;
  • Questões psicológicas – relacionadas com o medo e preocupação que o quadro clínico e o tratamento provocam.
     

Conheça as disfunções sexuais que podem surgir após tratar um Cancro da Próstata

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Apesar de os efeitos de um tratamento para o Cancro da Próstata poderem variar de caso para caso, existem algumas disfunções sexuais mais recorrentes.
Vamos descobrir quais são.

Disfunção eréctil

Este problema diz respeito à incapacidade persistente de atingir ou manter uma erecção com rigidez suficiente para uma relação sexual com penetração.
A disfunção eréctil é o problema sexual mais comum após o tratamento para o Cancro da Próstata. Pode resultar de lesões de estruturas necessárias à obtenção da rigidez do pénis ou de baixos níveis de testosterona.
Deste modo, costuma estar associada a procedimentos cirúrgicos, Radioterapia Externa e Hormonoterapia. É menos frequente após a Braquiterapia, mas ainda assim pode ocorrer com esta técnica.
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Diminuição da líbido

As mudanças no desejo sexual são as mais associadas a factores psicológicos. Toda a situação clínica, após o diagnóstico de cancro, pode trazer inquietações que se tornam o foco dos pacientes e que podem afectar a sua vontade e disponibilidade para uma relação sexual. Logo, este problema pode ser notado com qualquer tratamento.
A Hormonoterapia, em específico, pode também reduzir a líbido, ao bloquear a testosterona, que é responsável pelo estímulo do ímpeto sexual masculino.


Mudanças na ejaculação e no orgasmo

As alterações na ejaculação ocorrem, sobretudo, após um tratamento cirúrgico. O problema resulta da retirada da próstata e de outras estruturas que contribuem para a formação e expulsão do esperma, como as vesículas seminais e os canais deferentes. Sem elas, a ejaculação desse líquido deixa de existir.
O que pode acontecer é, em certos pacientes, ocorrer emissão de fluido uretral durante a relação sexual.
Esta ausência de líquido ejaculatório pode também trazer, para os pacientes, a impressão de alteração no orgasmo, ao serem incapazes de ver ou sentir a emissão habitual de sémen. No entanto, a sensação orgástica continua a existir, sem ejaculação.


Infertilidade

Com a remoção da próstata e de outras estruturas durante a cirurgia de Prostatectomia e com a inexistência de ejaculação de sémen, os homens são incapazes de conduzir os espermatozóides até ao sistema reprodutor da mulher pela via tradicional, durante o acto sexual. A consequência é a infertilidade.
Outros tratamentos também podem afectar a capacidade reprodutiva, de forma temporária ou permanente. É o caso da Hormonoterapia e da Radioterapia Externa.

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A manifestação das disfunções sexuais após o tratamento do Cancro da Próstata

As consequências sexuais descritas associadas a um tratamento para um tumor na próstata aparecem com maior frequência em certos casos do que noutros. Por vezes, podem nunca chegar a surgir, apesar de ser pouco provável, nomeadamente com alguns tratamentos.


Além disso, estes problemas podem ainda:

  • Surgir de forma mais precoce ou mais tardia, meses ou anos após o tratamento;
  • Ser mais intensos ou menos intensos;
  • Ser transitórios ou permanentes.


De modo geral, as disfunções sexuais após o tratamento do cancro prostático são mais prevalentes, intensas e/ou prolongadas em pacientes com:

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  • Problemas sexuais anteriores ao tratamento;
  • Idades mais avançadas;
  • Outras doenças e comorbilidades, como doenças cardíacas ou diabetes.

 

Gerir as disfunções sexuais após tratar um Cancro da Próstata

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A existência de alterações na função sexual após o tratamento do Cancro na Próstata tem um forte impacto no bem-estar emocional dos doentes. É frequente que os homens encarem a situação como um prejuízo para a sua masculinidade e auto-estima, trazendo sentimentos de ansiedade, medo e frustração. Estes quadros também interferem com a esfera íntima, alterando a forma como a sexualidade é vivida em casal.


Para contornar estas situações, existem hoje várias estratégias a adoptar. Algumas delas têm um carácter curativo, enquanto outras têm como objectivo aliviar o sofrimento sentido pelos pacientes.
Vamos descobrir algumas das medidas mais eficazes.


Tratamentos médicos

Existem alguns tratamentos que podem oferecer aos pacientes uma função sexual normal ou, pelo menos, aproximá-la da capacidade anterior ao tratamento. Estes são, sobretudo, indicados para os casos de disfunção eréctil e de infertilidade.
Os métodos mais usados na era actual para recuperar a função eréctil depois de tratar um Cancro da Próstata são:

  • Medicamentos orais – conhecidos como inibidores da enzima 5-fosfodiesterase (iPDE5), melhoram o fluxo sanguíneo e a resposta vasodilatadora do pénis para estimular a erecção. Os mais habituais são o tadalafil, vardenafil, avanafil e sildenafil e são tomados antes de uma relação sexual ou continuamente, exigindo estimulação prévia para obtenção de erecção;
  • Aplicação intrauretral ou injecção intracavernosas no pénis de fármacos – estimulam a fluxo sanguíneo para o pénis, o que favorece a erecção. O fármaco mais usado é o alprostadil, sendo também administrado antes do acto sexual, não precisando de estimulação para obter erecção (mas melhorando o grau de rigidez com a mesma);
  • Dispositivos de vácuo com ou sem anéis constritores colocados no pénis – fazem afluir e mantêm sangue no pénis, para que este fique e permaneça erecto;
  • Prótese peniana – inserção de um dispositivo nos corpos cavernosos do pénis para produzir uma erecção, quando desejada. Esta costuma ser a última opção considerada.


Em casos ocasionais, desde que terminado o tratamento para o cancro e conseguida a cura da doença, pode ser útil a terapêutica de substituição hormonal, com testosterona, para recuperar a função eréctil, mas esta medida pode ser considerada polémica.
Para os casos de infertilidade após remoção da próstata, também é possível recorrer a tratamentos de extracção dos espermatozoides do testículo ou dos epidídimos, para os juntar às células reprodutivas da mulher, com técnicas de reprodução medicamente assistida, “in vitro”.


Apoio psicológico

Ter acompanhamento psicológico após tratar um Cancro da Próstata é essencial, assim como durante todo o processo.

Este apoio pode ajudar a resolver uma disfunção sexual, em especial quando esta se relaciona com alteração do estado emocional, como acontece com as alterações da líbido. Ao ser ajudado a lidar com as suas preocupações, o paciente consegue eliminar ou moderar as suas próprias barreiras que o impedem de desenvolver um desejo sexual saudável.


Todavia, este acompanhamento é sempre importante perante qualquer disfunção, ajudando a encarar e superar a mesma e contribuindo para uma vida sexual mais harmoniosa.
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Como vimos, as disfunções sexuais afectam também quem partilha a vida com o doente, no que refere à intimidade. Portanto, é essencial incluir a/o parceira/o no problema e estabelecer uma comunicação aberta, franca e clara entre o casal, livre de tabus e constrangimentos.
Estando a par do assunto, a/o parceira/o pode também tirar as suas próprias dúvidas, compreender melhor o problema e motivar-se a si mesma/o para abordar as dificuldades. Desta forma, é mais fácil:

  • Melhorar o apoio emocional prestado ao doente e compreender os seus receios e preocupações;
  • Aligeirar o impacto da disfunção sobre o estado emocional do doente;
  • Evitar a distância emocional entre o casal;
  • Fortalecer a relação íntima;
  • Encontrar novas formas de explorar a sexualidade e de encarar a disfunção;
  • Aumentar a probabilidade de uma boa resposta aos eventuais tratamentos para a disfunção.


Medidas complementares

A adopção de algumas acções pode beneficiar a melhoria da função sexual, ao fortalecer a saúde geral do organismo. Estas são:

  • Promover uma actividade física regular;
  • Cessar os hábitos tabágicos;
  • Moderar a ingestão de bebidas alcoólicas;
  • Reduzir o peso corporal em casos de obesidade ou excesso de peso;
  • Praticar uma alimentação saudável, rica em frutas e vegetais.


Retomar a vida sexual após o tratamento do Cancro da Próstata

Depois de passar por um tratamento para um tumor na próstata e de ter de lidar com eventuais alterações a nível íntimo, é natural que o paciente se sinta hesitante em retomar a vida sexual. Contudo, esta recuperação da intimidade é importante para o seu equilíbrio psicológico e para a sua confiança.

Os especialistas encaram esta retoma como sendo fundamental para a reabilitação mais rápida da função sexual, ao contribuir para manter a vitalidade das estruturas penianas e a oxigenação dos tecidos. Por isso, recomendam que seja efectuada o mais cedo possível, regra geral no máximo no final do primeiro mês após o tratamento do cancro. Desde que se respeite o período de convalescença e a eventual cicatrização dos tecidos intervencionados e que se espere pela desalgaliação, é possível recuperar a actividade sexual sem comprometer a recuperação e sem qualquer dano.

Porém, é essencial estar ciente de que, em alguns casos, a rotina sexual irá precisar de adaptações e de passar por um processo de redescobrimento. Posto isto, em conjunto com o/a parceiro/a, durante este processo é fundamental:

  • Gerir as expectativas – aceitar que podem haver mudanças;
  • Ter calma e paciência – algumas dificuldades podem demorar tempo para desaparecerem ou melhorarem;
  • Explorar novas formas de dar e obter prazer – dependendo das dificuldades sentidas;
  • Experimentar outras estratégias de estimulação – essencial em casos de disfunção eréctil, por exemplo, em que a estimulação por penetração pode ser difícil ou impossível de alcançar sem a colocação de prótese.

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Recupere uma vida sexual feliz após o tratamento do Cancro da Próstata com a ajuda certa

Agora já sabe que, mesmo que surjam disfunções sexuais depois de tratar uma neoplasia na próstata, é possível encontrar métodos para melhorar o problema. Neste processo, é essencial contar com os profissionais certos.

No Instituto da Próstata, preocupamo-nos com o tratamento integral dos pacientes. Deste modo, além de darmos acesso às melhores terapêuticas para o tumor, garantimos um acompanhamento regular após as mesmas. Isto permite-nos avaliar a presença de consequências, entre as quais as sexuais.
Se estas existirem, realizamos os tratamentos mais eficazes para as resolver, incluindo os mencionados neste artigo.

Para isso, contamos com especialistas em Urologia, em Andrologia e Medicina Sexual e em Psicologia, de forma a oferecer o acompanhamento mais indicado para cada caso, tanto aos doentes como a quem partilha com eles a vida. Estes especialistas ajudam ainda a retomar a vida sexual após o tratamento de um Cancro da Próstata.

Confie na nossa ajuda e viva a sua sexualidade em pleno.

Dr. José Santos Dias

Director Clínico do Instituto da Próstata

  • Licenciado pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
  • Especialista em Urologia
  • Fellow do European Board of Urology
  • Autor dos livros "Tudo o que sempre quis saber Sobre Próstata", "Urologia fundamental na Prática Clínica", "Urologia em 10 minutos","Casos Clínicos de Urologia" e "Protocolos de Urgência em Urologia"

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