Sofrer de Incontinência Urinária é um problema que provoca muitas mudanças no estilo de vida e no próprio bem-estar. Por isso, é muito importante estar alerta acerca desta condição e saber mais sobre ela.
No entanto, os constrangimentos que provoca podem fazer com que seja menos debatida do que devia. Como consequência, surgem algumas ideias pouco credíveis e fiáveis, que importa esclarecer.
Para ajudar a esclarecer o assunto e acabar de vez com as dúvidas, neste artigo reunimos os principais mitos e verdades relacionados com esta condição.
O que é a Incontinência Urinária?
Diz-se que existe um quadro de Incontinência Urinária quando ocorrem perdas involuntárias de urina pela uretra, de forma recorrente. Isto é: a saída de urina deixa de ser controlável, podendo ocorrer em várias ocasiões inapropriadas. As razões estão relacionadas com alterações no funcionamento do sistema urinário.
A Incontinência Urinária pode surgir em mulheres ou homens. Além disso, estes quadros são sentidos de diferentes formas, com maior ou menor intensidade. Em qualquer dos casos, é uma condição com impacto negativo na autoestima, acabando por afectar também a esfera social, íntima e até profissional.
Por vezes, estas perdas de urina podem ainda estar associadas a outros sintomas, relacionados com o funcionamento do tracto urinário inferior. As queixas mais comuns são:
- Aumento da frequência da vontade de urinar;
- Vontade urgente e repentina de urinar;
- Necessidade de fazer força para urinar;
- Demora para começar a urinar;
- Redução da força e calibre do jacto de urina;
- Gotejo após urinar;
- Sensação de esvaziamento incompleto da bexiga.
Que tipos de Incontinência Urinária existem?
Além do facto de poderem ser sentidas com maior ou menor intensidade, as perdas de urina podem ter diferentes factores desencadeantes. Assim, existem vários tipos de Incontinência Urinária:
- Incontinência de esforço: os episódios ocorrem após esforço abdominal, como tossir, pegar em pesos, espirrar ou rir. A razão prende-se com o enfraquecimento dos músculos pélvicos, que deixam de ser capazes de sustentar a bexiga e uretra e, como consequência, de ajudar estas estruturas na contenção de urina;
- Incontinência de urgência (ou hiperactividade da bexiga): as perdas resultam de uma vontade incontrolável e súbita de urinar. Nestes casos, a bexiga sofre contracções descontroladas e as estruturas responsáveis pela contenção de urina são incapazes de suportar o consequente aumento de pressão no interior da bexiga;
- Incontinência mista: combina os dois tipos anteriores, com as perdas a ocorrerem em resultado de um esforço abdominal ou de uma vontade de urinar repentina;
- Incontinência por regurgitação: a perda de urina ocorre quando a bexiga está demasiado cheia, ultrapassando a sua capacidade de armazenamento.
Quais os principais Mitos e Verdades relacionados com a Incontinência Urinária?
1. É normal ter pequenas perdas de urina de vez em quando.
É esperado que as estruturas que compõem o sistema urinário sejam capazes de assegurar o processo de continência e de expulsão de urina e que este seja um mecanismo controlado. Por isso, as perdas involuntárias de urina são quase sempre anormais.
O que pode acontecer é sentir dificuldade em suster a urina, de forma transitória e ocasional, após um tratamento urológico, como consequência da toma de certos fármacos (diuréticos) ou em casos de consumo excessivo de substâncias como o café.
Em qualquer dos casos, é sempre importante esclarecer a origem dos episódios, descartando problemas mais sérios.
2. Os casos de Incontinência Urinária são raros.
Ao contrário do que se pode pensar, as perdas involuntárias de urina ocorrem com muito elevada frequência. Na verdade, alguns dados revelam que o número de pessoas a sofrer de Incontinência Urinária, em Portugal, alcança os 600 mil casos.
O que acontece é que, muitas vezes, os pacientes que sofrem com este problema evitam ou adiam a decisão de pedir ajuda profissional, por vergonha. Afinal, é uma condição que provoca muitos constrangimentos e afecta de forma marcada a autoestima, tornando difícil assumi-la e encará-la.
3. A Incontinência Urinária só aparece nas faixas etárias mais envelhecidas.
Este é um dos maiores mitos associados a esta condição.
É verdade que o risco de sofrer de perdas de urina involuntárias aumenta com a idade, em especial quando associadas a um aumento do esforço abdominal (Incontinência de esforço). Porquê? Porque, com o envelhecimento, os músculos pélvicos vão perdendo tonicidade e força, incluindo os do pavimento pélvico, deixando de ser capazes de ajudar a conter a urina. Ainda assim, é errado assumir que a Incontinência é uma consequência inevitável do envelhecimento - é possível envelhecer sem esta condição. Por outro lado, a incontinência urinária pode ocorrer em pessoas novas.
Existem muitos outros factores que fazem aumentar a probabilidade de sofrer de perdas de urina involuntárias de qualquer tipo, seja em que idade for, como por exemplo:
- Gravidez e parto;
- Obesidade;
- Alterações hormonais;
- Diabetes;
- Doenças neurológicas;
- Deficiências no esfíncter urinário;
- Traumatismos na região pélvica;
- Infecções urinárias recorrentes;
- Patologias da bexiga.
4. A Incontinência Urinária Feminina é mais comum que a Incontinência Urinária Masculina.
Dados revelam que as mulheres têm maior probabilidade de sofrer de Incontinência Urinária que os homens, sendo o tipo mais comum a Incontinência de esforço.
Os motivos estão relacionados com características próprias do sexo feminino, como a uretra mais curta ou os músculos pélvicos mais frágeis, que fazem aumentar o risco de sofrer de perdas de urina. Situações de gravidez (e consequente parto) e alterações hormonais que surgem com a menopausa também provocam o enfraquecimento dos músculos pélvicos, aumentando, de igual forma, a probabilidade de sofrer do problema.
5. Todas as mulheres sofrem de Incontinência Urinária no pós-parto.
Já vimos que os partos - em especial aqueles que são realizados por via vaginal – fazem aumentar a probabilidade de sofrer de perdas involuntárias de urina. No entanto, nem todas as mulheres que passam por uma gravidez desenvolvem o problema no período que sucede ao parto. Afinal, cada corpo é um corpo.
Por outro lado, estudos mostram que, mesmo se existir Incontinência Urinária no pós-parto os sintomas são vividos com menor intensidade, comparando com o terceiro trimestre de gravidez. Além do mais, pode desaparecer ao fim de algumas semanas.
Já nos casos em que as perdas de urina foram intensas no período de gestação é mais provável que se prolonguem no pós-parto. A realização de técnicas de reabilitação pélvica, no pós-parto, diminuem o risco de vir a sofrer de incontinência urinária no futuro.
6. A Incontinência Urinária Masculina pode surgir após tratamentos à próstata.
Existem diversas patologias que podem afectar a próstata ao longo da vida, umas benignas e outras malignas. Hoje em dia existem vários métodos para as resolver. Desses procedimentos resultam, com frequência, efeitos secundários, sendo as perdas involuntárias de urina um deles.
A Incontinência Urinária após retirada da próstata com cirurgia (em casos de cancro da próstata), por exemplo, é comum, graças ao risco de lesionar regiões próximas, como o esfíncter urinário, nervos e vasos locais..
Contudo, diferentes organismos reagem de formas distintas – enquanto uns podem sentir o problema de forma intensa e prolongada, outros sentem-no de forma leve e transitória.
Além disso, o surgimento de técnicas cada vez menos invasivas (como a Cirurgia Laparoscópica, por exemplo) permite reduzir a incidência do problema.
7. É possível tratar a Incontinência Urinária.
Os quadros de Incontinência, tanto feminina como masculina, podem ser tratados, após um diagnóstico correcto.
Mesmo quando não se consegue obter uma eficácia total do tratamento, pela gravidade do caso, é possível, pelo menos, controlar os sintomas, reduzir significativamente as perdas e melhorar a qualidade de vida.
Existem vários métodos para tratar a Incontinência Urinária. A escolha depende do tipo de Incontinência diagnosticada, da intensidade e gravidade dos sintomas, do quadro clínico em questão e da própria preferência dos pacientes.
Uma das opções é a Terapêutica Médica, através da toma oral de fármacos, destinada à Incontinência de urgência. Os mais habituais são os da classe dos Anti-muscarínicos ou Beta-3 Agonistas. Em certas situações, é ainda possível usar Toxina Botulínica ou colocar um Neuromodelador para controlar as contracções da bexiga.
A Reabilitação Pélvica é outra das soluções para tratar a Incontinência, em especial quando esta resulta do enfraquecimento dos músculos pélvicos. Esta terapêutica pode ser realizada de diversas formas, como:
- Fisioterapia - massagens pélvicas realizadas por especialistas;
- Exercícios de Kegel – movimentos de contracção e relaxamento dos músculos pélvicos;
- Electroestimulação – estimulação dos músculos através de correntes eléctricas;
- Biofeedback – a contracção dos músculos correctos faz com que seja fornecido um feedback adequado ao doente, através de sensores que identificam os músculos adequados, a intensidade da contração bem como o movimento correcto dos mesmos.
Por fim, é possível ainda recorrer às técnicas pouco invasivas quando a uretra e/ou o esfíncter deixam de conseguir cumprir a sua função de continência. Existem vários métodos disponíveis, todos muito seguros e pouco invasivos:
- Injecção de Bulking Agents – uso de substância para reduzir o calibre da uretra;
- Inserção de Microbalões – colocação de balões para comprimir a uretra (actualmente raramente utlizado)
- Colocação de Fitas/Slings Sub-uretrais – implantação de uma “alça” por baixo da uretra, também para a comprimir e sustentar;
- Colocação de Esfíncter Urinário Artificial – implantação de dispositivo que substitui o esfíncter na sua função de encerrar/abrir a uretra para urinar, reservado para os casos mais graves e com maior volume de perdas.
Quanto aos resultados, o tempo até serem notados depende do tratamento realizado. Com os fármacos e com a Reabilitação Pélvica, vão sendo alcançados com o tempo, à medida que as terapêuticas são administradas e repetidas. No caso das técnicas pouco invasivas, provocam melhorias mais imediatas e eficazes, com as perdas de urina a desaparecerem após o período de recuperação.
8. Os tratamentos para a Incontinência Urinária são necessários para toda a vida.
A toma de fármacos para tratar as perdas de urina pode ser prolongada – em certos casos, pode até ser mantida por toda a vida -, a fim de manter os resultados. Mesmo nos casos em que é utilizada a Reabilitação Pélvica, em especial os Exercícios de Kegel, é importante manter ou repetir os ciclos de tratamento, garantindo que os músculos permanecem fortes.
Todavia, algumas medidas oferecem resultados mais permanentes. É o caso das técnicas pouco invasivas. Quando são utilizadas, por norma, resolvem de uma vez o problema que origina a Incontinência, eliminando as perdas de urina.
Qual é a melhor forma de esclarecer dúvidas sobre a Incontinência Urinária?
Todos os mitos e verdades explicados são já uma grande ajuda na missão de saber mais sobre esta condição. Porém, pode procurar mais informações junto de um especialista.
Se notar perdas de urina, um apoio profissional também permitirá realizar um diagnóstico rigoroso, para clarificar o quadro clínico.
No Instituto da Próstata estamos sempre disponíveis para esclarecer dúvidas sobre Incontinência Urinária ou outra condição. Também dispomos dos meios de diagnóstico mais eficazes e dos tratamentos mais inovadores, para que tenha o acompanhamento adequado quando for necessário.
Conte com a nossa ajuda para proteger o seu aparelho urinário e viver com mais qualidade de vida, sem perdas de urina.